Conto de Natal
- Frederico Retzke
- 22 de dez. de 2016
- 2 min de leitura

A noite é quase gelada... Contudo, Mariazinha É a menina de outras noites Que treme, tosse e caminha...
Guizos longe, guizos perto... É Natal de paz e amor. Há muitas vozes cantando: “Louvado seja o Senhor!”
A rua parece nova Qual jardim que floresceu. Cada vitrine enfeitada Repete: “Jesus nasceu!”
Descalça, vestido roto, Mariazinha lá vai... Sozinha, sem mãe que a beije, Menina triste, sem pai.
Aqui e ali, pede um pão... Está faminta e doente. -“Vadia, saia depressa!” É o grito de muita gente.
-“Menina ladra! outros dizem. -“Fuja daqui, pata feia! Toda criança perdida Deve dormir na cadeia.”
Mariazinha tem fome E chora, sentindo em tormo O vento que traz o aroma Do pão aquecido ao forno.
Abatida, fatigada, Depois de percurso enorme, Estira-se na calçada... Tenta o sono mais não dorme.
Nisso, um moço calmo e belo Surge e fala, doce e brando: - Mariazinha, você Está dormindo ou pensando?
A pequenina responde, Erguendo os bracinhos nus: - Hoje é dia de Natal, Estou pensando em Jesus.
- Não recorda mais alguém? E ela, a chorar, disse: -Eu Penso também com saudade, Em minha mãe que morreu...
- Se Jesus aparecesse, Que é que você queria? - Queria que ele me desse Um bolo da padaria...
Depois de comer, então - E a pobre sorriu contente Queria um par de sapatos E uma blusa grande e quente...
Depois... queria uma casa, Assim como todos têm... Depois de tudo... eu queria Uma boneca também...
- Pois saiba Mariazinha, Eu lhe digo que assim seja! Você hoje terá tudo Aquilo que mais deseja.
- Mas, o senhor quem é mesmo? E ele afirma, olhos em luz: - Sou seu amigo de sempre, Minha filha, eu sou Jesus!...
Mariazinha, encantada, Tonta de imensa alegria, Pôs a cabeça cansada Nos braços que ele estendia...
E dormiu, vendo-se outra, Em santo deslumbramento, Aconchegada a Jesus Na glória do firmamento.
No outro dia, muito cedo, Quando o lojista abre a porta, Um corpo caiu de leve... A menina estava morta.
Pelo Espírito Francisca Clotilde
XAVIER, Francisco Cândido. Antologia Mediúnica do Natal. Espíritos Diversos. FEB.
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